Nascido em Alcobaça, cidade de 21 mil habitantes da Costa das Baleias, que reúne Prado, Nova Viçosa, Teixeira de Freitas, Itamaraju, Mucuri e Caravelas, Jalperaz,conhecido como Soca e Coroa, estreou no mundo do crime há 18 anos assassinando um rival de um bairro vizinho ao Paraíso Verde, onde morava.
Segundo a polícia, após o crime, Jalperaz teve o apoio da comunidade local, já que a vítima era um homem que gostava de andar armado e provocar confusão no Paraíso Verde e em outros bairros da periferia da cidade.
Bem visto no bairro, Jalperaz se sentiu à vontade para se afundar de vez no submundo do crime e passou a traficar drogas, dominando em pouco tempo todas as bocas de fumo de Alcobaça e outras cidades da Costa das Baleias, eliminando sem piedade quem se atrevesse a vender drogas em seus pontos estratégicos.
Em Alcobaça, onde será enterrado nesta quinta, com os familiares, a polícia diz que ele atuava com a ajuda de parentes mais próximos, tanto como informantes sobre movimentações de possíveis rivais ou diretamente no tráfico, seja na parte da contabilidade ou no comércio ilegal de drogas. À população, ele retribuía o silêncio com proteção contra assaltantes e ladrões.
A polícia atribui ao traficante aproximadamente 15 homicídios, dos quais teria comprovação de ao menos oito. Matava sempre com pistolas, e dava diversos tiros para não dar chance de sobrevivência às vítimas, sem ter pena ainda de testemunhas inocentes dos crimes, as quais também eram eliminadas sem dó.
Prisão
Preso em 12 de março de 2005, ele foi condenado a 31 anos e 10 meses de prisão em regime fechado, em 5 de agosto de 2009, por homicídio e ocultação de cadáver. Mas mesmo custodiado no Conjunto Penal de Teixeira de Freitas, comandava o tráfico na região e passou também, segundo a polícia, a determinar que seus comparsas realizassem assaltos e a buscar apoio com traficantes do Espirito Santo e Minas Gerais.
A região da Costa das Baleias está dentro de uma área que a polícia chama de “tríplice fronteira do tráfico de drogas”, composta por cidades do Extremo Sul baiano e do Norte de Minas Gerais e Espírito Santo. Com novos contatos, Jalperaz conseguiu se fortalecer com o fornecimento de drogas e armas.
Preso, ele mantinha bom comportamento: passava o tempo estudando e trabalhando, o que resultou em ser beneficiado em 2012 com o regime semiaberto. Em junho do mesmo ano, contudo, não suportou ver rivais vendendo drogas em um bar na cidade de Prado e resolveu atacar.
Junto com um comparsa, Edmílson Santana Ramos, o traficante montou na garupa de uma moto e foi até o local onde estavam Elias de Assis, 43, Luzivaldo Silva, 38, e Valdinei de Jesus Moreira, 33, mortos com vários tiros dados por Jalperaz, que ao ver que Reginaldo dos Santos, vizinho do bar, tinha testemunhado o crime, resolveu matá-lo também.
Na chacina, outras quatro pessoas ainda ficaram feridas. Ele então fugiu de barco pelo rio Jucuruçu até reencontrar Edmílson, deixar o bote no rio, e seguir de moto. No trevo de acesso a Alcobaça, a dupla foi abordada pela Polícia Militar, com quem trocou tiros.
Edmílson morreu após ser atingido por três disparos. Já Jalperaz, apesar de ser atingido na perna, conseguiu fugir por um matagal. Ele acabou preso em abril de 2013, capturado pela polícia do Espírito Santo, nas imediações de Balneário de Guriri, na cidade de São Mateus, e retornou ao Conjunto Penal de Teixeira de Freitas.
Mais uma vez, por bom comportamento, Jalperaz conseguiu a progressão de regime, só que dessa vez no regime aberto, dado na segunda-feira, 15, pela juíza Adriana Tavares Lira, que, no entanto, determinou que o traficante não saísse da cidade onde reside sem autorização judicial prévia.
O CORREIO tentou contato com os advogados Valney Ferreira da Silva e Paulo Rogério Teixeira de Andrade, que estavam na defesa de Jalperaz no caso, mas as ligações para o escritório deles não foram atendidas.
Livre do Conjunto Penal às 17h de anteontem, Jalperaz foi morto duas horas depois quando fugia mais uma vez para o Espirito Santo, por quatro homens em um Corolla. A quadrilha cercou o Siena vermelho em que Jalperaz estava com familiares e disparou diversas vezes, acertando as vítimas na cabeça e tórax. Todos morreram na hora.
Filha grávida
O Siena estava sendo dirigido pelo genro do traficante Alan Cláudio de Sousa Felipe, 22. As outras vítimas são Dilma Maria dos Santos Oliveira Rocha, 40, (esposa) e o casal de filhos Jalperaz do Espírito Santo Rocha Junior, 17, e Gabriela Oliveira Rocha, 22, grávida de sete meses. O bebê, cujo sexo a polícia não descobriu, morreu por asfixia.
A delegada Valéria Fonseca Chaves, coordenadora da 8ª Coordenadoria de Polícia do Interior (Corpin), sediada em Teixeira de Freitas, informou que possui uma lista de suspeitos do crime. “São conhecidos do tráfico na região que atuavam para tentar derrubar Jalperaz.Ele fugiram para o Espírito Santo depois do crime”, disse.
Dentro do Siena havia diversas anotações em um caderno, referentes ao tráfico de drogas, e munições de pistolas 9 milímetros.
“Até onde sabemos, os outros envolvidos não tinham relação com o tráfico, mas estamos investigando”, disse a delegada, segundo a qual Jalperaz “dentro do presídio parecia um santo, mas quando saía era um demônio, sobretudo para os rivais”.
Segundo a Polícia Civil apurou com familiares do traficante, ele estava fugindo para o estado capixaba com medo dos rivais e queria se reestruturar para voltar com mais força ao submundo do crime no Extremo Sul.
Ainda de acordo com a Civil, Jalperaz não tinha ligação com facções criminosas que atuam no Extremo Sul da Bahia, como a Mercado do Povo Atitude (MPA), com base em Porto Seguro, e o Primeiro Comando de Eunápolis (PCE), que são rivais e disputam o tráfico, sobretudo, no litoral de Porto Seguro, Arraia d’Ajuda e Trancoso, devido ao grande fluxo de turistas, que, segundo a polícia, são os maiores compradores de drogas na região. A MPA é liderada pelo traficante André Márcio de Jesus, o “Buiú” ou “Padaria”, preso no Aeroporto Internacional de São Paulo, em novembro de 2014.
Buiú, que segundo a Polícia Civil, possui ligações com a facção criminosa paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) está foragido – um ano depois de ser preso em São Paulo ele fugiu do Presídio da Mata Escura, em Salvador.
Já a PCE, em Eunápolis, é comandada pelos irmãos traficantes Ednaldo Pereira Souza, o Dada, e Reinaldo Pereira Souza, o Rena, que atualmente estão custodiados no Conjunto Penal de Serrinha, onde cumprem pena no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). Mas, mesmo presos, ainda continuam dando as ordens no tráfico, segundo a polícia, ordenando, inclusive a execução de rivais ou devedores de drogas.