Diz o ditado popular que o trabalho dignifica o homem. Porém, em alguns casos, ele também pode causar estresse ou distúrbios psicológicos. Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), profissões como médico e professor estão entre as mais desgastantes gerando uma alta incidência de licença por afastamento.
A pesquisa que mostra o retrato do educador brasileiro, feita pela Confederação Nacional dos Trabalhadores, revela que cerca de 20% dos professores pediram afastamento por licenças médicas. Em cada licença, o educador fica em média três meses fora da sala de aula.
Sintomas
De acordo o chefe da Unidade de Atenção à Saúde do Núcleo de Qualidade de Vida da Secretaria de Educação do Estado, Júlio César Nascimento, o afastamento do professor, pode comprometer a qualidade de vida deste profissional, comprometendo o ensino na rede pública. Os sintomas mais frequentes de afastamento são: problemas na voz e transtornos psiquiátricos.
“Nosso Núcleo foi criado há dois anos e já atendemos muitos professores. A principal queixa desses profissionais é o desgaste da voz. Em seguida, o estresse. Eles reclamam que a rotina é complicada e que muitas vezes são ameaçados. Nós os acolhemos e encaminhamos para especialistas. Na maioria dos casos, eles voltam para a sala de aula”, revelou Nascimento.
Pressão
Cinco licenças. Esse é o número de vezes que uma professora que trabalha em três escolas estaduais foi afastada das suas atividades. Ela ensina há 16 anos e revela que a rotina é estressante. “Mal vejo a hora de me aposentar. Já tive problemas na voz e fui ameaçada várias vezes pelos alunos. É muito humilhante, nós professores ganhamos pouco e ainda temos que nos submeter a isso”, desabafa a educadora que prefere não ser identificada.
E os casos de violência não pararam por ai. Outra professora que também prefere ter a identidade preservada revela que, além de ser agredida verbalmente, por pouco não foi agredida fisicamente por uma aluna de 17 anos.
“Ela nunca compareceu às minhas aulas. Só vim conhecê-la no último dia quando estava entregando as últimas notas. Ela veio dizer que tomava remédios controlados e que por isso não estava indo para a escola. Eu disse que não poderia fazer nada e ela me xingou bastante. Sai no meio da aula e não voltei”, relembrou a professora.
A professora disse ainda que pediu para sair da escola temendo novas agressões. “Naquela escola eu não coloco mais os pés. Se soubesse que passaria por isso, não tinha escolhido essa profissão. Acho sublime você poder contribuir na formação de um profissional, mas não vale a pena”, desabafou.
Mudança
A Escola Estadual Geraldo de Melo dos Santos viveu em 2012 um período marcado pela violência. No mês de setembro a escola registrou um incêndio criminoso que acarretou na destruição de parte da estrutura da instituição. Além disso, traficantes da região ordenaram o fechamento da escola durante alguns dias e professores chegaram a ser ameaçados.
Após o ocorrido, o Governo do Estado decidiu implantar um sistema de policiamento mais rigoroso nas proximidades da escola, adotando inclusive a revista dos alunos. O secretário de Promoção da Paz, Jardel Aderico, confirmou que a prática ainda está sendo realizada, mas com menor intensidade.
Segundo a diretora da escola, Irineide de Araújo, após todo o histórico de violência, a unidade deu a volta por cima. “Tivemos um aumento de 200% no número de matrículas e 30 alunos conseguiram boas notas no ENEM e garantiram uma vaga na universidade pública. Estamos trabalhando com o jovem para que ele entenda que eles precisam do professor”, disse.
fonte: G1