O mundo parou para assistir ao discurso de quase uma hora no qual Donald Trump disparou tarifas de ao menos 10% para produtos de 185 países importados pelos americanos. Um grupo de 60 nações, sobretudo da Ásia e Europa, terá taxas ainda mais altas, enquanto o Brasil ficou entre os países — como Argentina e Reino Unido — que terão seus produtos taxados no percentual de 10%, o mais baixo do pacote.
As novas tarifas entram em vigor nos dias 5 e 9 de abril. Trump repetiu várias vezes a expressão “Dia da Libertação”. Mais cedo, confirmou que vai impor 25% de tarifas a todos os automóveis fabricados fora de seu país. Os veículos ficam fora das “tarifas recíprocas”, assim como aço e alumínio, que igualmente já haviam sido taxados em 25%.
O maior peso recaiu sobre os asiáticos. Economias como Vietnã, Camboja e Taiwan terão seus itens taxados em mais de 30%. A mais prejudicada é a China, que já havia sido sobretaxada em 20% e terá uma tarifa total de 54%. Os países da União Europeia serão cobrados em 20%. Não houve mudança em relação aos vizinhos Canadá e México (25%). Produtos farmacêuticos ficarão, por enquanto, isentos — uma vitória dessa indústria, que vinha fazendo lobby em Washington. (Globo)
“Por décadas, nosso país foi roubado, pilhado, estuprado e saqueado por nações próximas e distantes, por aliados e inimigos”, disse o presidente republicano. “Estamos sendo gentilmente recíprocos, não totalmente recíprocos”, ironizou, afirmando que as tarifas anunciadas ainda são menores do que as cobradas por esses países. Trump disse que suas medidas gerarão “US$ 6 trilhões em investimentos” — uma afirmação contestada por especialistas, para os quais as tarifas são, na verdade, pagas por empresas e consumidores americanos. (AP)
Com um certo tom de bullying, Scott Bessent, secretário do Tesouro dos EUA, aconselhou aos parceiros comerciais que não tomem medidas de retaliação. “Eu não tentaria retaliar”, disse Bessent à Bloomberg. “Desde que não haja retaliação, esse é o limite máximo da cobrança.” O chefe do Tesouro indicou que o governo “deixaria as coisas se acalmarem por um tempo” e que ainda pode haver negociação. “Esperem e vejam.” (Bloomberg)
A China não parece disposta a esperar. Analistas disseram que Pequim provavelmente irá retaliar com tarifas sobre exportações politicamente sensíveis para os Estados Unidos, como produtos agrícolas. O governo de Xi Jinping prometeu reagir à “intimidação típica” de Trump com “contramedidas firmes”, porém não especificadas. (Washington Post)
Em comunicado, o Itamaraty lamentou a decisão e rejeitou o argumento de “reciprocidade comercial” usado por Trump. “O superávit [dos EUA] chegou a US$ 28,6 bilhões no ano passado. Trata-se do terceiro maior superávit comercial daquele país em todo o mundo”, diz o texto. “Ao longo dos últimos 15 anos, os EUA acumularam superávit de US$ 410 bilhões no comércio com o Brasil.” O governo Lula não descarta medidas legais e comerciais, inclusive recurso à Organização Mundial do Comércio. (g1)