Lajedão: A cidade de Lajedão, na Bahia, que faz divisa com Minas Gerais, está sofrendo com a queima de cana-de-açúcar realizada pelas usinas que cercam o município. A prática, que é usada para facilitar a colheita e aumentar o rendimento da cana, tem causado sérios problemas de saúde, ambientais e sociais para os moradores, que pedem socorro e uma solução para o caso. A queima de cana libera cinzas e fuligem no ar, que se espalham pela cidade e sujam as casas, as ruas e as plantações.
Além disso, a fumaça prejudica a qualidade do ar e provoca doenças respiratórias, especialmente em crianças e idosos. Os moradores relatam que sofrem com falta de ar, tosse, alergia e irritação nos olhos. “Isso tem trazido grandes problemas de saúde para crianças, para idosos, fora a sujeira que faz na casa da gente, nas ruas. Lajedão é uma comunidade que tem pouca oferta de água, as pessoas precisam lavar a casa, quase todos os dias, passar pano e fazer a limpeza geral, porque tem afetado a gente diretamente por muito tempo, todos os dias”, disse uma moradora.
“A gente sente falta de ar, respira com essa cinza aí. Além disso, você convive com essa sujeira na casa. Tem um senhor aqui que está usando uma lona para forrar a cama”, conta outro morador, que prefere não se identificar. A situação se repete de abril a dezembro, período da safra da cana-de-açúcar na região. Segundo os moradores, as usinas não se preocupam com o bem-estar da comunidade e não oferecem nenhum benefício social em troca dos transtornos causados pela queima de cana.
“A gente precisa rever também a situação como cidadão, porque a gente não pode ficar sofrendo isso a vida toda, essa situação das usinas, não se preocupar com a gente aqui em Lajedão”, reclama outra moradora. Os moradores de Lajedão pedem que as autoridades responsáveis pelo controle ambiental fiscalizem as usinas e apliquem as sanções previstas em lei. Eles também pedem que os proprietários das empresas cheguem a um acordo com a comunidade e adotem medidas para reduzir ou eliminar a queima de cana.
Uma das alternativas possíveis é o corte mecanizado da cana, sem necessidade de fogo. Essa prática já é adotada em alguns estados brasileiros, como São Paulo, onde a lei proíbe a queima da palha da cana-de-açúcar desde 2014. Segundo a Embrapa, o corte mecanizado traz vantagens ambientais, sociais e econômicas, como a preservação do solo, do ar e da biodiversidade, o aumento da produtividade da cana, a geração de empregos qualificados e a produção de energia renovável a partir da biomassa.
Os moradores de Lajedão esperam que as usinas se sensibilizem com o problema e adotem essa ou outra solução que respeite os direitos da comunidade e do meio ambiente. Eles contam com o apoio da opinião pública e da mídia regional para divulgar o caso e pressionar as autoridades e as empresas a tomarem uma atitude. “Precisamos denunciar, fazer um abaixo assinado, ir ao Ministério Público, para tentar rever essa situação, fazer um termo de ajuste, para que nas proximidades da cidade, seja feito o corte mecanizado, não queimando a cana, porque isso tem trazido muito prejuízo para a gente”, disse outro morador.
Até mesmo o prefeito da cidade, Tonzinho, reclamou da situação: “Hoje aqui em casa amanheceu dava para pegar a cinza com uma pá. A cerâmica chegou mudar de cor de tão impregnada. Não tem condições uma coisa dessa. Vamos acionar o jurídico da Prefeitura para ver se há algo que possa ser feito. Do jeito que está não há condições. Estamos muito prejudicados com essa cinza”, disse o prefeito de Lajedão.
Os moradores de Lajedão só querem viver em paz e com dignidade em sua cidade, sem ter que conviver com a poluição e o descaso das usinas de cana-de-açúcar. Segundo apurou nossa reportagem, o representante de uma das usinas se colocou à disposição da comunidade para se reunir, conversar, achar uma solução. Nossa equipe segue acompanhando o caso.
Por: Edvaldo Alves/Liberdadenews