Que o bolsonarismo pretendia um golpe de Estado para manter seu líder no poder após a derrota eleitoral, poucas dúvidas restavam. Agora sabe-se como a derrubada das instituições democráticas seria feita. Segundo reportagem de Robson Bonin, a Polícia Federal encontrou no celular do tenente-coronel Mauro Cid, antigo ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, um documento detalhando o passo a passo do golpe. Intitulado Forças Armadas como poder moderador, o texto de três páginas previa, entre outras inconstitucionalidades, a nomeação pelos comandantes das Forças Armadas de um “interventor” no Judiciário, o afastamento de ministros do TSE vistos como contrários a Bolsonaro – Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia e Ricardo Lewandowski, que seriam substituídos por André Mendonça, Nunes Marques e Dias Toffoli — e a convocação de novas eleições. Em mensagens recuperadas no celular de Cid, o coronel Jean Lawand Junior, subchefe do Estado-Maior do Exército, insiste que o ajudante de ordens convença Bolsonaro a “dar a ordem”, mas Cid diz que o chefe não confiava no Alto-Comando do Exército
Golpe de Estado, aliás, foi uma das acusações que fizeram Moraes autorizar a PF a cumprir ontem três mandados de busca e apreensão em endereços do senador Marcos do Val (Podemos-ES) em Brasília e Vitória, assim como no seu gabinete parlamentar. Além de documentos e computadores, seu celular foi apreendido. As redes sociais do senador também foram bloqueadas por ordem do ministro. Do Val é investigado ainda por divulgação de documento confidencial, associação e organização criminosa, além de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, que podem levar a um total de 31 anos de prisão. A operação ocorreu dias depois de o parlamentar divulgar trechos do relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) com alertas sobre os atos golpistas de 8 de janeiro. Em fevereiro, o STF já havia determinado a abertura de investigação contra Do Val para apurar as declarações de que ele teria recebido uma proposta para participar de um golpe de Estado com o ex-presidente Bolsonaro e o ex-deputado Daniel Silveira.
Presente de aniversário indigesto. Foi assim que, em entrevista à Globo News, Do Val classificou a ação da PF. Ele disse que Moraes se sentiu afrontado com a convocação para que o ministro participe da CPMI dos Atos Golpistas. “Eu fiz esse requerimento porque, no relatório da Abin, está informado que o STF e o Superior Tribunal Eleitoral foram comunicados anteriormente que, no domingo dia 8, aconteceria aquele fato. Então, eu fiz a convocação para que ele pudesse fazer a explicação”, afirmou. O senador também negou que tenha dado várias versões sobre seu relato, em fevereiro, acusando Bolsonaro e Silveira de organizarem uma reunião, no fim do ano, para propor seu envolvimento em um plano de golpe de Estado. E disse que não prestaria depoimento à PF ontem e que não sabe se o fará na semana que vem.
Fonte O meio