“Moro e Dallagnol sempre estiveram na política, só que antes usavam os seus cargos no sistema de Justiça para atacar adversários e até mesmo advogados de seus adversários”, afirmou Cristiano Zanin, que integra a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em entrevista nesta sexta-feira (5) à colunista Bela Megalle, do jornal O Globo, Zanin e Luiz Carlos Rocha, que defendeu Lula na Operação Lava Jato, comentaram sobre as intenções políticas recentemente reveladas do ex-juiz e do ex-procurador.
Moro se filia na semana que vem ao Podemos. Ele é cotado, inclusive, como virtual candidato ao Palácio do Planalto no ano que vem. Na avaliação de Rocha, no entanto, “o ex-juiz não chegará a se lançar candidato à Presidência”. Para ele, o que move tanto Moro como Dallagnol é a busca por “prerrogativa de foro e a estabilidade de cargos públicos”.
Dallagnol, que anunciou ontem (4) sua saída do Ministério Público Federal (MPF), também deve seguir para o mesmo partido do colega de Lava Jato. Sua exoneração “a pedido” foi assinada hoje pelo procurador-geral da República, Augusto Aras. A tendência é que ele concorra a uma cadeira na Câmara.
Nesse sentido, Zanin lamentou que Dallagnol abandonou a carreira de procurador da República sem ter sido merecidamente punido pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Nesse sentido, o defensor o acusa de “ter cometido violações grosseiras a direitos fundamentais e a prerrogativas profissionais dos advogados”.
Mais reações
Sem citar diretamente a Lava Jato, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse que alerta “há anos” para a politização do sistema de Justiça. “A seletividade, os métodos de investigações e vazamentos: tudo convergia para um propósito claro – e político, como hoje se revela. Demonizou-se o poder para apoderar-se dele. A receita estava pronta”, declarou pelo Twitter.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), destacou que a saída de Dallagnol do MPF é para evitar punições em mais de 40 processos que tramitam no CNMP. E também comentou a provável candidatura do procurador. “Deixa claro que sempre o objetivo da operação, com todos os acertos que teve, era o protagonismo político, a ação política para dela fazer uso”, disse o deputado à CNNBrasil.
Plágio
Conhecido por inovar juridicamente, transgredindo as normas do devido processo legal, Moro, no entanto, foi menos original desta vez. No convite para a cerimônia de filiação ao Podemos na próxima quarta-feira (10), o ex-juiz utiliza o slogan “Um Brasil justo para todos”. Trata-se de uma cópia do lema utilizado pela equipe de Lula, em 2016, justamente durante o embate político-jurídico com os artífices da Lava Jato. Naquele momento, o slogan adotado foi “Um Brasil justo pra todos e pra Lula”.