Um novo aplicativo de smartphone unirá forças de pescadores, gestores e cidadãos em geral para reforçar o trabalho de cientistas marinhos brasileiros e escoceses, em busca do uso mais sustentável de saborosos caranguejos do manguezal.
Durante a temporada reprodutiva, milhares de caranguejos de manguezal saem em massa de suas tocas para procurar companheiros para acasalamento: são as chamadas andadas. Nestes períodos, pode-se ver andando não só caranguejos, mas também pesquisadores de várias partes do Brasil, interessados em compreender este espetáculo da natureza. Agora, se juntarão a esta “andada” em busca de conhecimento, coletores de caranguejo, comerciantes, gestores de unidades de conservação, fiscais e cidadãos em geral, que, graças a um inovador aplicativo para celular, poderão avisar aos pesquisadores quando virem caranguejos andando. Estas informações são de grande importância, pois a andada é essencial para a perpetuação das espécies e, ao mesmo tempo, é quando os caranguejos ficam mais vulneráveis, podendo ser facilmente capturados por qualquer pessoa, mesmo não profissionais.As andadas parecem ser controladas pela lua, porém esta sincronia ainda não é completamente compreendida. A Dra. Karen Diele, bióloga marinha da Universidade Edimburgo Napier e da Estação Marinha de St Abbs, Escócia, explicou: “Os caranguejos procuram companheiros somente em torno da lua nova e da lua cheia, porém, em certos anos as andadas ocorrem somente em torno da lua cheia, em outros ocorrem apenas em torno da lua nova e, mais raramente, existem anos em que as andadas ocorrem em torno destas duas fases da lua”.
O Dr. Anders Schmidt da Universidade Federal do Sul da Bahia disse: “Por falta de pleno conhecimento e por precaução, o IBAMA proíbe a captura de caranguejos em torno da lua cheia e da lua nova. No entanto, quando os defesos ocorrem em períodos em que não há caranguejos andando, coletores são injustamente impedidos de trabalhar e entram em conflito com os gestores que, por sua vez, também acabam desperdiçando recursos públicos com fiscalizações desnecessárias.”O Dr. Anders Schmidt da Universidade Federal do Sul da Bahia disse: “Por falta de pleno conhecimento e por precaução, o IBAMA proíbe a captura de caranguejos em torno da lua cheia e da lua nova. No entanto, quando os defesos ocorrem em períodos em que não há caranguejos andando, coletores são injustamente impedidos de trabalhar e entram em conflito com os gestores que, por sua vez, também acabam desperdiçando recursos públicos com fiscalizações desnecessárias.”Para solucionar este problema é preciso prever exatamente quando e por que as andadas ocorrem ao longo dos 7500 km de litoral do Brasil. Para isso foi criada uma rede de pesquisadores brasileiros e escoceses envolvendo 10 instituições: é a chamada Rede de Monitoramento de Andadas Reprodutivas de Caranguejos – REMAR. Prevendo a ocorrência das andadas, a REMAR poderá orientar a criação de períodos de defeso adequados, o que contribuirá para a sustentabilidade da atividade de coleta de caranguejos, que fornece meios de subsistência para milhares de pescadores sem outras opções de renda.Os coletores de caranguejos e gestores são, de fato, os maiores interessados em saber com antecedência quando ocorrem as andadas e estes poderão contribuir para um monitoramento participativo através do novo aplicativo de smartphone REMAR-CIDADÃO, a ser lançado pela REMAR em Caravelas, Bahia, no dia 16 de novembro de 2017, em Ponta de Areia, CEPENE/Projeto Manguezal, das 9h às 12h. Este aplicativo de “Ciência-Cidadã”, co-desenvolvido pelos estudantes de informática da Universidade de Edimburgo Napier, permitirá que qualquer pessoa, em qualquer ponto do litoral brasileiro, registre facilmente ocorrências de andadas. As informações fornecidas por “cientistas cidadãos” são enviadas diretamente para um banco de dados da REMAR para serem analisadas.Karen explicou: “O aplicativo Android pode ser baixado gratuitamente no Google Play Store e será inestimável para coletar informações sobre quando as andadas de caranguejos estão acontecendo em diferentes partes do país”.Anders acrescentou: “Já testamos um protótipo do aplicativo e ele é muito fácil de usar. Esperamos que muitas pessoas no Brasil usem o aplicativo e contribuam para a nossa pesquisa. Da nossa parte, nos comprometemos a repassar os resultados para os participantes, inclusive através de um website da REMAR que está sendo criado especialmente para este propósito.”Ulisses Scofield, do Centro Nacional de Pesquisa para a Conservação da Biodiversidade Marinha do Nordeste –CEPENE / ICMBio, Base Avançada em Caravelas/BA, disse: “Desvendar os segredos por trás das andadas permitirá uma gestão pesqueira mais adequada no uso sustentável deste recurso, impedindo que extrativistas e comerciantes de caranguejos percam mais renda devido a proibições de captura erroneamente estabelecidas, e também reduzindo custos com fiscalização e monitoramentos”.Esta união de esforços mediada pelo avanço tecnológico de um aplicativo para smartphone estará, em última análise, contribuindo para a perpetuação da cultura milenar de coleta de caranguejos e para a melhora da qualidade de vida das populações tradicionais envolvidas