PSDB rachado em MG pode abrir mão de candidato vinculado a Aécio
6 de fevereiro de 2018
Sem nome para disputar Palácio da Liberdade após desistência de Anastasia, ala tucana negocia chapa com PSB e PP
O PSDB apresentou candidato próprio ao governo de Minas Gerais em todas as eleições desde 1990, a primeira após a criação da legenda dois anos antes. O partido venceu quatro das sete disputas locais. Mas o pleito de 2018 pode ser diferente. Pela primeirra vez, os tucanos não têm até agora um nome próprio para concorrer ao Palácio da Liberdade, sede do governo mineiro.
O partido está dividido. Uma ala tucana negocia apoio a candidato de outra legenda e pode, inclusive, abrir de mão de indicar um vice. Outro grupo resiste tentando convencer o senador e ex-governador Antônio Anastasia a se candidatar – hipótese rechaçada por ele ano passado, afirmando que pretende se manter no Senado, onde tem mandato até 2022.
O choque entre tucanos reflete erros cometidos pela principal liderança do partido no estado, o senador Aécio Neves. Os candidatos escolhidos por ele para as duas últimas eleições majoritárias de Minas sofreram derrotas fragorosas. O próprio Aécio perdeu na corrida presidencial de 2014 no estado governado por ele duas vezes.
O desgaste da legenda em Minas ficou evidente na derrota de João Leite na disputa pela prefeitura de Belo Horizonte em 2016, vencida pelo outsider da política e ex-presidente do Atlético Mineiro Alexandre Kalil, do nanico PHS. Em 2014, o tucano Pimenta da Veiga – outro indicado de Aécio – foi derrotado em primeiro turno pelo petista Fernando Pimentel.
O cenário ficou mais difícil com a derrocada da imagem de Aécio Neves, após vir a público áudio de conversa dele com o dono da JBS Joesley Batista, no qual pedia 2 milhões de reais em dinheiro vivo para custear sua defesa na Lava Jato.
“Aécio tinha uma liderança exuberante na capital e no estado inteiro”, lamenta o deputado federal Marcus Pestana. O parlamentar, uma das principais figuras tucanas em Minas e secretário-geral do PSDB nacional, defende que o partido não dispute como cabeça de chapa.
‘Partido do Aécio e do Anastasia, o PAA’
Pestana é o principal articulador de uma chapa que possa ser liderada pelo ex-prefeito de BH Márcio Lacerda (PSB) ou o deputado estadual Dinis Pacheco (PP). “Nós sempre tivemos uma parceria que eu até brincava ser o PAA: Partido do Aécio e do Anastasia, que é mais amplo que o PSDB. Então, não temos nenhum problema em apoiar o candidato de outro partido”, diz Pestana.
O deputado vê como necessário puxar um nome sem vínculo com o PSDB para consolidar uma oposição ao governador Fernando Pimentel, candidato natural à reeleição. O petista está combalido por uma série de denúncias de corrupção relacionadas ao período em que era ministro de Dilma Rousseff.
O cálculo é de que há espaço para ocupar a vaga assumida pelo senador Zezé Perrella (MDB) após a morte de Itamar Franco em 2011. O problema é que se deixar o governo, Pimentel perde o poder da máquina estadual para fortalecer um sucessor no governo.
A saída de Pimentel fortaleceria o vice Antônio Andrade (MDB), que rompeu com o petista e hoje faz oposição. O emedebista defende candidatura própria de seu partido. O nome mais forte até o momento é do deputado federal Rodrigo Pacheco, presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara.
Maia tenta palanque
O presidente do PSDB mineiro, deputado federal Domingos Sávio, discorda de Pestana e defende um palanque próprio para fortalecer o presidenciável Geraldo Alckmin. Ele irá insistir para Anastasia se candidatar.
“Eu achava que a discussão com o senador Anastasia no ano passado era precipitada, era num ambiente e momento políticos inadequados. Era natural uma resposta negativa dele. Acho que agora, no final de fevereiro, é o momento para uma conversa mais objetiva, mais franca. Eu diria que é o momento de um chamamento, de uma convocação ao ex-governador [Anastasia], que é uma figura que representa uma convergência natural não só do PSDB, mas de vários partidos”, afirma Sávio.
Em 2016, após rejeitar um retorno ao Palácio da Liberdade, Anastasia sugeriu Pacheco como nome a ser apoiado pelo PSDB. O titular da CCJ ganhou notoriedade ao presidir o rito de tramitação das denúncias contra o presidente Michel Temer no ano passado.
A exposição de Pacheco atraiu o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), que tenta convencê-lo a migrar para o DEM. A construção de um palanque em Minas é estratégica na ambição de Maia para se viabilizar como candidato à sucessão de Temer.
O deputado confirma as conversas e assume que tem interesse em ser candidato, inicialmente pelo MDB – ele não descarta mudar de partido. “A posição do senador Anastasia, que já foi externada por ele, é de simpatia à nossa candidatura seja no MDB, seja no DEM”, afirma Pacheco. “Vamos avaliar em algum momento se podemos ter também o apoio do PSDB”, diz.
A dificuldade é um potencial efeito negativo de receber apoio de Aécio, após as sucessivas derrotas de candidatos do tucano e à exposição negativa do senador alvo de nove inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF).
Pacheco evita se vincular a Aécio e afirma que não mantém conversas com ele. “A questão [do apoio] do senador Aécio Neves tem de ser avaliada de acordo com um contexto de partido para saber qual vai ser a posição do PSDB e dele em relação às eleições”, desconversa.